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Vencendo em Tempos de Crise

02 / 07 / 20

Larissa Mallmann F. A. Brandão | [email protected]

O primeiro e segundo trimestres de 2020 foram marcados por uma pandemia que, além das consequências econômicas, envolveu os governos e povos em importantes reflexões e discussões sociais, éticas, científicas, sanitárias e humanitárias.

Nesse quadro adverso causado pelo Covid-19, o governo brasileiro tem articulado e aprovado diversas medidas para mitigação das consequências socioeconômicas do freio abrupto da economia.

Sabe-se que o tempo de permanência da população em quarentena será determinante para o desempenho do PIB brasileiro, indicadores do mercado, índice de desemprego e aprofundamento do subemprego e da pobreza. não apenas no Brasil, mas também em outros países.

Contudo, é fundamental manter em mente que toda crise – por mais profunda que possa ser – tem seu término e, em meio à tempestade, aconselhamos muito equilíbrio e racionalidade para analisar o quadro e responder, progressivamente, da forma mais assertiva possível para contornar os impactos do Covid-19 nos negócios.

Nem todas as empresas sofrem na mesma proporção dentro de um determinado segmento. Cada empresa tem suas forças e vulnerabilidades e, por isso, é importante dimensionar de maneira pragmática estas características e endereçar cada uma dessas potencialidades e fraquezas organizacionais para subsistir às sequelas econômicas e sociais da pandemia.

Os movimentos mais poderosos que uma empresa pode executar num momento como esse dependem (1º) de como a pandemia está afetando, especificamente, a indústria na qual a empresa compete; (2º) do posicionamento estratégico da empresa no seu setor; e (3º) do nível de recursos financeiros que a empresa dispõe para atravessar a crise.

Com inteligência estratégica, a empresa poderá balizar essas três dimensões-chaves para atravessar a crise e sair fortalecida (na sua cultura interna e no seu posicionamento perante o mercado) ao final desse percurso.

Se a empresa possui uma saúde financeira confortável ou satisfatória, pode ser o momento de explorar o mercado e investir em marketing, inovação (de produtos, serviços e processos) e em novas estratégias, saindo na frente dos seus competidores ao término da crise.

Por oportuno, o momento é estratégico para Fusões e Aquisições (M&A). Sabidamente, grandes operações tendem a ocorrer em períodos de crise, tanto para empresas capitalizadas como para empresas menos capitalizadas que, porém, contam com bons investidores, bancos e fundos de investimentos na sua retaguarda.

Anota-se que os efeitos econômico-financeiros desta crise terão alguma influência no resultado da avaliação do negócio (Valuation), uma vez que o faturamento interfere no lucro e, por consequência, na precificação da empresa. Somado a isso, uma situação de PIB próximo de zero ou de PIB negativo também são variáveis que impactam a avaliação. Contudo, ainda assim, há grandes oportunidades no mercado, principalmente para fusões estratégicas.

Por outro lado, no caso de recursos financeiros escassos, o gestor terá um conjunto diferente de possibilidades. As empresas menos capitalizas devem aproveitar a urgência do momento para colocar a casa em ordem e implementar boa parte das melhorias que sabidamente já se faziam necessárias antes da pandemia. Entre as suas opções pode estar a venda de ativos não necessários para a operação, reestruturação da dívida ou aceleração de decisões de redução de custos e endividamento. Outras ações importantes incluem a otimização da cadeia de suprimentos, otimização dos custos administrativos, redução de complexidade e busca de alternativas para aumentar receitas e margens. Ainda, há a possibilidade de procurar alianças estratégicas ou parceiros para uma fusão.

O essencial é contar com bons profissionais e assessoria especializada para dimensionar quais recursos estão disponíveis para a empresa atravessar esse período. Para tanto, diversas simulações de cenários (principalmente moderados e pessimistas) são cruciais para identificar os recursos imprescindíveis para a continuidade do negócio.

Finalmente, reter bons profissionais é um dos principais fatores-chave de sucesso para a organização. Equipes competentes e valorizadas geram empresas mais resilientes e duradouras. Pode ser a hora de refletir sobre a cultura organizacional, preocupando-se com o propósito a empresa, a qualidade da liderança e a construção da equipe que irá guiar a viagem para o futuro.

Por fim, conforme dito inicialmente, reforçamos que toda crise tem seu término e que medidas importantes têm sido adotadas em escala global para atenuar seus efeitos. Apesar do cenário macroeconômico desanimador, existe espaço para as empresas identificarem suas fontes de valor e desperdício e investir em estratégias que levarão à sustentabilidade organizacional por mais tempo.

Os desafios advindos da pandemia de 2020 são singulares, porém há que se trabalhar de forma intensa para endereçar as questões contábeis, tributárias e estratégicas da forma mais rápida e eficiente, de modo a proteger a continuidade da operação e preparar o negócio para a retomada do mercado global pós-Covid-19.